terça-feira

Arroz de Carreteiro



Estamos na Semana Farroupilha que vai até o dia 20 de Setembro, para nós Gaúchos comemora-se a data máxima: Revolução Farroupilha,  e para lembrar a data um dos pratos mais típicos, além do churrasco é claro, neste caso estou falando do Arroz de Carreteiro:
Que felizmente por muitas vezes tanto meu Pai como Minha Mãe e inclusive amigos fizeram na panela de ferro para que pudéssemos ter o privilégio de comer um prato genuínamente criado por nossos antepassados.


Essa receita foi feita para 20 Gaúchos aproximadamente.

5 kg de charque (carne seca) com gordura;
1 kg de linguiça pura e maturada (opcional);
1,6 kg de arroz amarelão;
5 Cebolas grandes;10 dentes de alho;
200 gr de toucinho ou bacon;Sal e pimenta.

MODO DE FAZER:Dessalgue o charque já cortado em pequenos cubos, sem fervê-lo, colocando-o numa vazilha com agua, que deverá ser trocada a cada duas horas; (+- 12 horas).
Coloque o arroz de molho, sem lavá-lo.Corte a linguiça em rodelas, frite-as e reserve sem o excesso de gordura;
De preferência numa panela de ferro ou outra de parede grossa, derreta o toucinho (bacon), e doure o alho e a cebola.
Após, coloque o charque, a linguiça já frita (opcional) e a pimenta a gosto, acrescentando +- 1 litro de água. Deixe cozinhar no mínimo por 30 minutos, colocando em seguida o arroz. Verifique o sal e a água, completando-os se necessário.
Sirva em seguida.

DICAS: O charque + maturado acentua o paladar e torna o arroz de carreteiro mais original; Coloque o tempero verde num recipiente para que cada um se sirva a gosto;
Não ferva o charque para tirar o sal, mantendo desta forma o gosto mais autentico; Regule o sal somente ao final, pois com a fervura do charque o sal pode se acentuar;Sirva o arroz de carreteiro assim que ficar pronto, ainda quente, e bom apetite;O arroz deve corresponder a 1/3 do peso do charque;Para cada quilo de charque, coloque uma cebola grande e dois dentes de alho;O arroz leva de 10 a 20 minutos para cozinhar, dependendo do fogo;Quanto mais tempo cozinhar o charque, mais macio fica;Verifique a quantidade de fogo, pois dependendo da panela poderá queimar o arroz.


Curiosidades:

Arroz de Carreteiro: Prato característico do cardápio gaúcho. Nascido da luta das estradas, seu sabor se confunde com o prazer de viver nestes pagos soberanos. (Extraído do livro de Salvador Ferrando Lamberty – “ABC do Tradicionalismo Gaúcho” , 2. Edição, Martins Livreiro Editor, 1989).

Carreteiro: Aquele que conduzia as carreteadas, que era um veículo de tração animal, uma espécie de carroça puxada por bois. Os rangidos dos rodados eram a certeza do transporte do suprimento necessário para erguer-se um rancho, vanguarda dos confins das plagas do sul. Cortando distâncias, o carreteiro deixava a família e a querência. Um fiambre, contendo charque, tinha presença na mochila do carreteiro. Era o alimento protéico mais adequado para vencer a carreira das distâncias.

Tropeiro: Condutor de tropas, de gado, de éguas, de mulas, ou de cargueiros. Pessoa que se ocupa em comprar e vender tropas de gado, de éguas ou de mulas. Peão que ajuda a conduzir a tropa, que tem por profissão ajudar a conduzir tropas. O trabalho do tropeiro é um dos mais ásperos, pois além das dificuldades normais da lida com o gado, é feito ao relento, dia e noite, com chuva, com neve, com minuano, com soalheiras inclementes, exigindo sempre dedicação integral de quem o realiza.Charque: Carne bovina salgada e secada ao vento.

No livro de Jayme Caetano Braun “Potreiro de Guachos”, 5.edição, Ed. Sulina, 1975, encontramos uma poesia intitulada “ARROZ CARRETEIRO” fantástica, que fala um pouco da história deste prato.

Poesia:

Título:
Arroz de Carreteiro
Autoria: Jayme Caetano Braun

Nobre cardápio crioulo das primitivas jornadas,Nascido nas carreteadas do Rio Grande abarbarado,Por certo nisso inspirado, o xiru velho campeiroTe batizou de "Carreteiro", meu velho arroz com guisado.

Não tem mistério o feitio dessa iguaria bagual,É xarque - arroz - graxa - salÉ água pura em quantidade.Meta fogo de verdade na panela cascurrenta.Alho - cebola ou pimenta, isso conforme a vontade.

Não tem luxo - é tudo simples, pra fazer um carreiteiro.Se fica algum "marinheiro" de vereda vem à tona.Bote - se houver - manjerona, que dá um gostito melhorTapiando o amargo do suor que - às vezes, vem da carona.

Pois em cima desse traste de uso tão abarbarado,É onde se corta o guisado ligeirito - com destreza.Prato rude - com certeza, mas quando ferve em voz roucaDeixa com água na boca a mais dengosa princesa.

Ah! Que saudades eu tenhodos tempos em que tropeavaQuando de volta me apeava num fogão rumbeando o cheiroE por ali - tarimbeiro, cansado de bater casco,Me esquecia do churrasco saboreando um carreteiro.

Em quanto pouso cheguei de pingo pelo cabresto,Na falta de outro pretexto indagando algum atalho,Mas sempre ao ver o borralho onde a panela ferviaEu cá comigo dizia: chegou de passar trabalho.

Por isso - meu prato xucro, eu me paro acabrunhadoAo te ver falsificado na cozinha do povoeiroDesvirtuado por dinheiro à tradição gauchesca,Guisado de carne fresca, não é arroz de carreteiro.

Hoje te matam à Mingua, em palácio e restauranteMas não há quem te suplante, nem que o mundo se derreta,Se és feito em panela preta, servido em prato de lataBombeando a lua de prata sob a quincha da carreta!

Por isso, quando eu chegar, nalgum fogão do além-vida,Se lá não houver comida já pedi a Deus por consolo,Que junto ao fogão crioulo,

Quando for escurecendo, meu mate -amargo sorvendo,A cavalo nalgum tronco, escute, ao menos, o roncoDe um "Carreteiro" fervendo.

Um comentário:

  1. Muito boa a receita, e é bom saber que na Bahia existe um CTG que propaga e mantém nossas tradições!

    Muito legal
    Paulo Tarcísio
    Alegrete - RS

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